domingo, 25 de julho de 2010

O Poeta está doente...



O Poeta está doente.
Ele não é um doente,
apenas está doente.
Chega achar que nem é doença,
somente um invasor inoportuno.
Se pega pensando o porque,
sabendo que inexiste resposta.

Poderia ser a pedra no caminho.
A queda da construção.
O choque na contramão.
O tiro da traição.
A rima sem solução.

O Poeta está doente.
Ele já o sabia
embora não acreditasse.

O Poeta está doente
e doente morrerá.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

O Poeta está doente I


"Amar, porque nada melhor para a saúde que um amor correspondido." Vinícius de Moraes

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Morreu J. D. Salinger


Mark Chapman pediu a John Lennon que autografasse uma cópia de The Catcher in the Rye, e no mesmo dia assassinou o ex-Beatle. Um livro para pessoas instáveis e violentas? O bem-sucedido publicitário brasileiro Washington Olivetto sempre tem em sua casa dezenas de exemplares de The Catcher in the Rye para oferecer a amigos e conhecidos. Um livro para pessoas criativas e generosas? O que tem de extraordinário este The Catcher in the Rye (no Brasil, O Apanhador no Campo de Centeio, editado pela Editora do Autor), obra máxima de J.D. Salinger, que atrai legiões de admiradores dos mais diferentes perfis e é cultuado nos mais diversos círculos?

Jerome David Salinger, o autor, é uma figura estranha. Nascido em 1919, desde sempre foi avesso à imprensa ou outras formas de divulgação da sua figura, tornando-se paranoicamente recluso. Ainda na época do lançamento de The Catcher in the Rye, na década de quarenta, fez o seu editor prometer que não lhe enviaria quaisquer críticas que fossem publicadas sobre o livro. Reclamou também que a sua foto na contra-capa estaria muito grande. Solicitou que não fosse feita qualquer publicidade do livro aludindo à sua pessoa, alegando que não queria correr o risco de acreditar no que leria.

The Catcher in the Rye conta, numa narrativa em primeira pessoa, alguns dias na vida do adolescente Holden Caulfield, que acaba de ser expulso da sua terceira escola bem às vésperas do natal, nos EUA do pós-guerra. Numa linguagem simultaneamente criativa e coloquial (o que dificulta a vida dos tradutores), Caulfield vai revelando, aos poucos, algo sobre o seu passado, sua família e seus conhecidos, ao mesmo tempo em que vagueia por New York pulando de uma encrenca para outra. E, para alguém entediado e deprimido como ele, nada melhor que uma encrenca para manter o interesse.

O texto segue a linha joyceana do fluxo de consciência, com as frases jorrando aos borbotões como se saídas diretamente da cabeça do narrador, saltando de um assunto para o outro sem grande cerimônia, parecendo obra do acaso. (Na verdade, tudo isto é planejadíssimo, e existe até mesmo um capítulo no qual, sob uma sutil máscara, é discutido o papel das digressões na narrativa.) Em The Catcher in the Rye o fluxo de consciência funciona particularmente bem, pois permite expressar a instabilidade emocional do protagonista não somente no conteúdo da narrativa mas também em sua forma.

Holden Caulfield é ao mesmo tempo o herói e o vilão da história. Vítima de si próprio e de sua sensibilidade ao que o cerca, divertidamente mentiroso, assumidamente covarde, parece buscar uma espécie de redenção ajudando desconhecidos e cultuando sua irmãzinha de dez anos. Mas o que realmente o incomoda é o vazio e a falsidade das pessoas, que por mais promissoras que pareçam sempre acabarão por se revelar como mais uma decepção. Isto não faz de The Catcher in the Rye exatamente uma leitura animadora, mas ainda assim existe algum resquício de inocência e ingenuidade infantil em Holden Caulfield, e também um humor (negro, é claro), que não deixam o livro afundar num poço de pessimismo e depressão.

Pode ser que você não resolva oferecer o livro a todos os seus amigos e conhecidos. Mais improvável ainda que depois da leitura você resolva assassinar um astro da música pop. Mesmo assim, The Catcher in the Rye é um daqueles livros que não pode faltar na estante de quem gosta de literatura, pois deixa uma semente de inquietação e a incômoda sensação de que temos em nós muito de Holden Caulfield.

Nota do Blog:

Texto de Nemo Nox que é editor do blog Por um Punhado de Pixels e do site Burburinho, onde este texto foi originalmente publicado.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Haverá um tempo.



Haverá um tempo
em que se contarão os momentos.
Nada de segundos, minutos, horas,
dias, semanas, meses, anos.
Eras não mais.
Momentos!
Os mais doloridos.
Os mais angustiantes.
Os mais verdadeiros.

Haverá um tempo
em que se olharão nos olhos.
E todo olhar momentâneo
terá seu momento.
De olhar.
Olhar para o instante
como definitivo e poderoso.

Com certeza haverá um tempo.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009


O POVO QUE COMPRA CANETAS

Transferia-me de uma cidade para outra e o fazia de trem. A paisagem interna era mais interessante do que aquilo que corria desenfreado lá fora. Um vendedor ambulante anunciava canetas. Várias por um vintém. E o povo comprava. Comprava. Comprava. Em segundos o estoque sumiu. Fiquei a imaginar. Que país sensacional é esse que todos sabem ler e escrever. Que todos são letrados. Que todos compram canetas.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009



A BUSCA DO POETA LOUCO



Não se vai aqui questionar em que nível chegou a loucura do poeta.
Enlouqueceu simplesmente.
Sem estágios intermediários,
sem meio-termo, sem ameaças, sem faz de conta.
Pirou. Pinel. Charcot.
Virou as costas e saiu andando.
Deu de ombros.
Desdenhou nossa razão e se foi.
Partiu.
Sem eira foi ali pela beira.
Marginal se ausentou da realidade.
Talvez dissesse que ia atrás de Zaratustra,
em busca do mito da caverna,
participar da guerra do fogo,
no encalço do santo graal,
percorrer a estrada de tijolos amarelos,
encontrar o caminho do Eldorado.
Definitivamente não vamos aqui tergiversar
nem usar de subterfúgios para melhorar a fama do poeta,
nem vamos preservar sua imagem,
livrar-lhe a cara,
tirar-lhe o... da reta,
salvar-lhe a pele,
aninhá-lo nos braços e niná-lo.
Não, não vamos não.
O poeta enlouqueceu e pronto!
Dispensa-se o eletro choque,
o sossega leão,
a camisa-de-força,
o cloridrato de fluoxetina,
o ficar de bem dando o dedinho.
Dispensam-se as mensagens de condolências,
as coroas de flores,
os epitáfios,
as tele-mensagens,
os telegramas cantados,
as olas da torcida,
as voltas olímpicas,
os jogos de despedidas.
O poeta enlouqueceu e é só!
Não deixou testamento,
bens a inventariar,
penduras no boteco,
livros no prelo,
cartas para serem abertas depois.
Não legou herança, esperança, crianças
nem lembranças...
O poeta ficou de saco cheio e irmanou-se com a insanidade
e na sua idade
isto foi fundamental.
Tirou o cavalinho da chuva,
o burro da sombra,
desencostou do barranco,
deu bom dia pra poste.
Que não venham com nome de rua,
praça ou avenida,
não precisa,
nem enredo de escola de samba,
não componham hino, nem acústico, nada...
O poeta enlouqueceu...

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Limitações



São bípedes,
Mamíferos e sociáveis.
Às vezes propõem diálogo.
Possuem massa encefálica,
mas falham.

São humanos,
Espíritos e almas.
Às vezes ameaçam razão.
Têm o hardware,
Falta-lhes o software.