segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Minha Linda!



Minha Linda!

Te sei todos os pensamentos
dos mais doces aos mais sacanas
dos mais infantis aos mais filosóficos

Te sei todos os momentos
dos desvairios aos centrados
dos perversos aos sublimes

Te sei quase inteira
só não o sei totalmente
pois o que te falta sou eu

E eu não me sei.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

CONTRA-PARTE



Contra Parte

Careço de uma contra parte!
Necessariamente não precisa ser a minha.
Pois essa não sei se existe ou se já a tive.
Mas o que importa é que necessito.
Que seja bela,
no meu entender de beleza.
Que fale o indispensável e o inimaginável,
que não queira discutir a relação,
que sua relação seja comigo.

Careço de uma contra parte!
Prá beijar na boca nos pontos de ônibus.
Prá acaricar na escada rolante.
Prá mandar flores nas sextas-feiras chuvosas.
Que seja inteligente,
no meu saber de inteligência.
Que me ofereça a nuca,
que me oferaça o púbis,
que me ofereça as ancas.

Careço de uma contra parte!
Que me tire dos instantes deselegantes,
que não me corrompa ou troque de papéis,
que diga que sou o maior e que a possuo.
Para andarmos pelas calçadas caçoando,
moldarmos o tempo e forjaremos o espaço,
eu e minha contra parte.

Mas não precisa ser minha.

quarta-feira, 16 de julho de 2008


ESSAS LÁGRIMAS SÃO MINHAS

Sei que não mais retornarão aos teus vitreos olhos,
acalmando teu resfolegar.
Sei que destemperaram teu humor e com ele
borraram tua face.
Sei que elas rolaram e teu pranto contido
soluçou até altas horas.
Mas meu amor eu te peço:
Transfira esse instante para mim,
traga todos os tragos que te tragaram,
entrega-me tuas mãos e eu as protegerei.
Não mais haverá o teu pranto.
Pois essas lágrimas são minhas.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

As Crianças


Hoje não tem mais aula. Elas estão de férias. Trocou-se o cinza dos uniformes pelo colorido das pipas no céu. As peruas e vâs pelos skates e bicicletas. Nada de tabuada ou regras de acentuação, agora é bafo e bolinha de gude. O pipoqueiro ficou em casa. A merendeira apagou seu fogão. As brigas ao final do período vão aguardar um tempo. As crianças estão de férias e com elas existe um novo ar nas ruas. As esquinas estão mais barulhentas, as avós sem trocado, os calçados mais sujos e os varais mais lotados. Férias é sinonimo de liberdade. Por que será? Vou perguntar para uma amiga pedagoga.

Urtiga




Arde em mim algo que 'inda não sei,
transpassa a alma
e de forma difusa vem me incomodar.
São noites e dias que teimam se alternar,
são dores e chagas que insistem em me assolar.
Arde com a força de mil vulcões.
Erupções à flor da pele,
pelos gânglios,
pelo sujo sangue que bombeia.
Tumores expostos a todos os transeuntes,
um chapéu velho estendido na calçada,
migalhas de trocados lançadas com dó.
Arde pelas costas,
encostadas no velho casario,
meu corpo estendido pela calçada.
Vivo num mundo à parte,
parte de mim concorda,
a outra nem se manifesta.
Infestada pelo ópio e sem heroínas,
cambaleio pelos espaços abertos
a procura de menos ardor.
Arde em cada respirar,
(se é que hoje respiro)
e em todas as apinéias.
As unhas já não resolvem,
esfregar-me nos muros,
roçar-me nos troncos das árvores.
As mãos titubeiam mas mesmo assim,
continuo colhendo as urtigas.