quarta-feira, 16 de julho de 2008


ESSAS LÁGRIMAS SÃO MINHAS

Sei que não mais retornarão aos teus vitreos olhos,
acalmando teu resfolegar.
Sei que destemperaram teu humor e com ele
borraram tua face.
Sei que elas rolaram e teu pranto contido
soluçou até altas horas.
Mas meu amor eu te peço:
Transfira esse instante para mim,
traga todos os tragos que te tragaram,
entrega-me tuas mãos e eu as protegerei.
Não mais haverá o teu pranto.
Pois essas lágrimas são minhas.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

As Crianças


Hoje não tem mais aula. Elas estão de férias. Trocou-se o cinza dos uniformes pelo colorido das pipas no céu. As peruas e vâs pelos skates e bicicletas. Nada de tabuada ou regras de acentuação, agora é bafo e bolinha de gude. O pipoqueiro ficou em casa. A merendeira apagou seu fogão. As brigas ao final do período vão aguardar um tempo. As crianças estão de férias e com elas existe um novo ar nas ruas. As esquinas estão mais barulhentas, as avós sem trocado, os calçados mais sujos e os varais mais lotados. Férias é sinonimo de liberdade. Por que será? Vou perguntar para uma amiga pedagoga.

Urtiga




Arde em mim algo que 'inda não sei,
transpassa a alma
e de forma difusa vem me incomodar.
São noites e dias que teimam se alternar,
são dores e chagas que insistem em me assolar.
Arde com a força de mil vulcões.
Erupções à flor da pele,
pelos gânglios,
pelo sujo sangue que bombeia.
Tumores expostos a todos os transeuntes,
um chapéu velho estendido na calçada,
migalhas de trocados lançadas com dó.
Arde pelas costas,
encostadas no velho casario,
meu corpo estendido pela calçada.
Vivo num mundo à parte,
parte de mim concorda,
a outra nem se manifesta.
Infestada pelo ópio e sem heroínas,
cambaleio pelos espaços abertos
a procura de menos ardor.
Arde em cada respirar,
(se é que hoje respiro)
e em todas as apinéias.
As unhas já não resolvem,
esfregar-me nos muros,
roçar-me nos troncos das árvores.
As mãos titubeiam mas mesmo assim,
continuo colhendo as urtigas.