Careço de uma contra parte! Necessariamente não precisa ser a minha. Pois essa não sei se existe ou se já a tive. Mas o que importa é que necessito. Que seja bela, no meu entender de beleza. Que fale o indispensável e o inimaginável, que não queira discutir a relação, que sua relação seja comigo.
Careço de uma contra parte! Prá beijar na boca nos pontos de ônibus. Prá acaricar na escada rolante. Prá mandar flores nas sextas-feiras chuvosas. Que seja inteligente, no meu saber de inteligência. Que me ofereça a nuca, que me oferaça o púbis, que me ofereça as ancas.
Careço de uma contra parte! Que me tire dos instantes deselegantes, que não me corrompa ou troque de papéis, que diga que sou o maior e que a possuo. Para andarmos pelas calçadas caçoando, moldarmos o tempo e forjaremos o espaço, eu e minha contra parte.
Mas não precisa ser minha.
quarta-feira, 16 de julho de 2008
ESSAS LÁGRIMAS SÃO MINHAS
Sei que não mais retornarão aos teus vitreos olhos, acalmando teu resfolegar. Sei que destemperaram teu humor e com ele borraram tua face. Sei que elas rolaram e teu pranto contido soluçou até altas horas. Mas meu amor eu te peço: Transfira esse instante para mim, traga todos os tragos que te tragaram, entrega-me tuas mãos e eu as protegerei. Não mais haverá o teu pranto. Pois essas lágrimas são minhas.
Hoje não tem mais aula. Elas estão de férias. Trocou-se o cinza dos uniformes pelo colorido das pipas no céu. As peruas e vâs pelos skates e bicicletas. Nada de tabuada ou regras de acentuação, agora é bafo e bolinha de gude. O pipoqueiro ficou em casa. A merendeira apagou seu fogão. As brigas ao final do período vão aguardar um tempo. As crianças estão de férias e com elas existe um novo ar nas ruas. As esquinas estão mais barulhentas, as avós sem trocado, os calçados mais sujos e os varais mais lotados. Férias é sinonimo de liberdade. Por que será? Vou perguntar para uma amiga pedagoga.
Arde em mim algo que 'inda não sei, transpassa a alma e de forma difusa vem me incomodar. São noites e dias que teimam se alternar, são dores e chagas que insistem em me assolar. Arde com a força de mil vulcões. Erupções à flor da pele, pelos gânglios, pelo sujo sangue que bombeia. Tumores expostos a todos os transeuntes, um chapéu velho estendido na calçada, migalhas de trocados lançadas com dó. Arde pelas costas, encostadas no velho casario, meu corpo estendido pela calçada. Vivo num mundo à parte, parte de mim concorda, a outra nem se manifesta. Infestada pelo ópio e sem heroínas, cambaleio pelos espaços abertos a procura de menos ardor. Arde em cada respirar, (se é que hoje respiro) e em todas as apinéias. As unhas já não resolvem, esfregar-me nos muros, roçar-me nos troncos das árvores. As mãos titubeiam mas mesmo assim, continuo colhendo as urtigas.